quinta-feira, 16 de junho de 2011

“VÍCIOS” PRESENTES NA PRÁTICA DA LIDERANÇA CRISTÃ - PARTE 1

Como já escrevi, não sou nem de longe um expert em liderança, tão pouco tenho tal pretensão. Porém, por força da prática de mais de vinte anos, somada a estudos usados em aulas, etc., sinto-me confortável para opinar, tecer críticas e apontar os erros cometidos no âmbito da liderança cristã – minha consciência obriga-me a não me excluir deste rol, no qual, lamentando, não só assumo ter cometido inúmeros erros, como estar sujeito a cometê-los novamente.

Por mais que tente explicar os motivos que me levaram a escrever ou mencionar esta ou outra mazela constatadas nas lideranças dos diversos ambientes cristãos, sempre haverá a suspeita de que não são legítimos, ou que são desabafos inconsequentes. Como conheço muito bem a hipocrisia e superficialidade que permeia estes mesmos meios, logo, não tenho em primeiro plano esta preocupação, e estou disposto a correr quaisquer riscos.... Valerá a pena!

Meu foco e minha preocupação principais se destinam às pessoas submetidas aos mais diversos tipos de lideranças. Junto a estes, muitas indagações e “nós na garganta” que têm me incomodado, me frustrado e, nos últimos anos, me causado um efeito tão desastroso que cheguei ao a ponto de não ter nenhuma vontade ou motivação de participar de reuniões, encontros e outros acontecimentos coletivos da classe – os chamados encontros, reuniões, almoços e cafés de pastores ou ministros, por exemplo, são eventos que, na maioria das vezes, provocam os sentimentos de desconforto e repulsa só de imaginar que terei o desprazer de encontrar homens e mulheres que prometem os céus nos púlpitos e nas tribunas, enquanto transformam os ambientes onde atuam em verdadeiros infernos.

Quando decidi dar ao título a palavra “vícios” foi para mostrar de cara que a questão não é tão simples assim; que seria no mínimo estúpido da minha parte achar que um indivíduo na posição de liderança vai mudar da noite para o dia. Você conhece algum drogado que foi desintoxicado em 24 horas? Também não vai conhecer um líder autocrático, autoritário (um verdadeiro demônio), virar anjo em curto período de tempo!

A lista é extensa, embora não exaustiva, mas tanto experiências pessoais, quanto relatadas por terceiros, adicionadas aos relatos em livros e estudos, me convencem de que a liderança cristã moderna atual está seriamente comprometida, com forte tendência a agregar cada vez mais destes “vícios”.

Elenquei alguns deles para dar corpo ao nosso estudo evitando, na medida do possível cair no enjoativo “evangeliquês”, mas procurando manter o crivo bíblico ao fazer cada afirmação ou observação. Bom proveito!

AUSÊNCIA DE CONVICÇÃO

Em se tratando de igrejas, instituições ou organizações cristãs, ninguém deveria ocupar cargo ou posição alguma sem ter a convicção absoluta de que o que pretende fazer é exatamente o que foi chamado para fazer. Por exemplo, não é raro encontrar rebanhos sob os cuidados de pessoas que jamais sonharam ou desejaram cuidar de outras pessoas. Isto é tragédia anunciada!
Já ouviu falar do termo “dirigente de congregação” – nome genérico dado a indivíduos que assumem em caráter “eternamente temporário” a posição que só alguém convencido de ter chamado pastoral deveria ocupar? Os resultados desta prática aparentemente bem intencionada são desastrosos – podem, inclusive, levar igrejas pequenas a traumas irreversíveis, ou a baixarem as portas em curto prazo!

Como recentemente resolvi não mais colaborar como voluntário e mobilizador no seguimento de agências missionárias diretamente, talvez o seguinte comentário, bem como outros que deverei fazer, além de expressar meus pensamentos sobre o assunto, respondam a alguns questionamentos, ajudem a dirimir dúvidas e a calem eventuais polêmicas, comentários desencontrados, etc., os quais vinha relutando em responder até o momento

Minhas observações agora vão de encontro ao segmento missionário – meio que ocupou intensamente metade da minha vida, ao qual dediquei a mesma medida de paixão e devoção, mas que hoje em dia está cada vez menos presente em minhas práticas, dadas as frustrações e decepções com as instituições, organizações e lideranças também acometidas de vários comportamentos “viciados”. Neste meio, ao longo dos anos acostumei a não me surpreender ao esbarrar com pessoas sem a devida certeza de serem vocacionadas, tanto nas agências ou nas chamadas bases missionárias (escritórios que dão apoio logístico a missionários), ou mesmo nos campos missionários que pude visitar – se fosse só a questão do dinheiro e demais recursos desperdiçados (ou usurpados) até que seria tolerável, o problema é quando as portas se fecham por causa do mal estar que este “vício” causa.

DESPREPARO

No meu caso, falar sobre este aspecto, o qual considero um dos mais vergonhosos e complicados em liderança cristã, é muito fácil: Este é meu caso. Apesar de ter superado esta questão, quem já ouviu meu “tristemunho” sobre o início da carreira ministerial como líder na igreja, em classes dirigidas a líderes ou em conferências sabe muito bem o quanto apanhei durante neste tempo por não possuir os preparos psicológico, emocional e teológico necessários para o exercício de cuidar de um grupo ou rebanho – isto provocou reflexos cruéis para minha trajetória ministerial. Porém, ainda em nossos dias, minha experiência não é exceção, é regra! É sabido que milhares e milhares de obreiros espalhados em todo o território brasileiro (e no mundo), membros das mais diversas denominações (históricas, tradicionais, pentecostais, renovadas e neo pentecostais) com nenhum ou quase nenhum treinamento necessário para ocupar funções das mais simples (professor de escola dominical, líder de pequenos grupos, por exemplo), às mais complexas como o próprio pastorado.

Apesar de concordar e ter a consciência de que nem mesmo os bacharéis estão imunes às baixarias (com permissão ao inevitável trocadilho), sei que recai sobre aqueles que quase, ou nenhuma preparação possuem as maiores chances de colecionarem as mais tórridas experiências. Sobre estes também pesa a maior probabilidade de vitimarem muita gente, além de se tornarem prisioneiros de um sistema eclesial moderno que prioriza resultados, quantidade, ao invés da qualidade.

Quem nunca ouviu falar da “A História do VCC” ou do vídeo em que o sujeito chama a Bíblia de “briba”? Tanto na ilustração, quanto no hilário vídeo encontrado no Youtube os indivíduos (um fictício e outro real) podiam até estar cheios de boas e legítimas intenções, porém, para qualquer que seja a liderança, boa intenção só não basta.

AUTORITARISMO

Se há alguém que pode ser mais bem conhecido quando lhe é conferido poder, este é o indivíduo com tendência ao autoritarismo e, para decepção geral, facilmente encontrados em todos os lugares: organizações, instituições e igrejas, exercendo domínio e subjugando a todos que estiverem sob suas lideranças. Como o próprio termo sugere, este tipo de liderança é impositivo, altamente opressor e estressante.

No geral, o perfil de líderes autoritários é típico em pessoas altamente afetadas pela “síndrome da superioridade”, que tendem a subestimar a capacidade e a vontade dos subordinados.
Outras características comuns verificadas são: a alta capacidade de persuasão (manipulação), potencializada pela segurança que suas posições oferecem; o uso e abuso das famosas “carteiradas” (aquelas do tipo “você sabe com quem está falando?”), sustentadas nas prerrogativas de possuírem mais recursos, mais conhecimento disto ou daquilo, mais formação (entenda-se mais certificados) ou mais influência (os famosos “costas quentes”), etc.

Líderes autoritários se apropriam da máxima de Jesus dita aos seus discípulos “sem mim nada podeis fazer” como slogan preferido! Isto se dá por que eles gostam de mostrar que sabem tudo, podem e resolvem tudo para não incorrer no risco de dividir a glória com quem quer que seja. Por estes e outros motivos, deve-se tomar extremo cuidado com líderes autoritários, pois estes são, no meu parecer, os indivíduos mais “territoriais” e “predadores” – aqueles que não pensarão duas vezes antes de eliminar o primeiro que oferecer a mínima oposição ou resistência. - pr Aécio

(CONTINUA)

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