sexta-feira, 13 de agosto de 2010

CRÔNICAS – I

A MENINA, A MAÇÃ E O DIABO

Certa manhã, uma pequena menina passeava despreocupadamente pela feira de domingo próxima à sua casa.
Uma maçã atravessou pelo chão, rolando sobre seus pés.
Num ato reflexo, ela se abaixou e pegou a fruta. De repente, um homem apresentou-se dizendo que aquela maçã lhe pertencia, que havia caído de sua sacola.
Antes mesmo de entregá-la para aquele desconhecido, outro homem, com um avental encardido, se apresentou como dono da banca de frutas ao lado e, portanto, a maçã lhe pertencia. A celeuma estava armada!

Em poucos minutos se formou uma roda de fregueses e feirantes curiosos, atraídos pelo bate-boca que já se estendia por alguns minutos.

- A maçã é da menina! Foi ela quem a achou! – Gritou um senhor no meio da turba.

- Não, não... É do dono da barraca. Alguém deve ter esbarrado na banca, e a bendita fruta caiu! – Disse outro curioso.

- Comprei meia dúzia delas e só tenho cinco em minha sacola, logo, é minha! - Esbravejou o primeiro homem a reclamar a posse da disputada maçã.

Sem nenhum acordo aparente, o entrave se estenderia pelo dia todo, não fosse a “pérola” gritada de outro feirante, crente fervoroso, que esperava o momento oportuno para liberar toda sua sabedoria e espirituosidade:

- Esta fruta só pode ser do diabo! Pra causar tanta briga, só pode ser do enxerido mesmo!

A menina agarrou a fruta com as duas mãos, escondeu-a nas costas e disse com um olhar desafiador:

- Tudo bem! Agora que já sei quem é o dono, assim que ele aparecer eu mesma entrego!

Enquanto a pequena multidão se desfazia sem uma só palavra, a menina desaparecia em meio a carrinhos, sacolas e o trânsito típico das feiras de domingo.

Os dois homens que disputavam a posse da maçã se entreolharam furiosamente, mas também se retiraram em silêncio, cada um para seus afazeres.

Enfim, de quem era a maçã?

- pr Aécio -

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