Existem muitos fatores que podem contribuir para que uma crise não seja devidamente superada e gostaria de ponderar sobre alguns deles nas linhas seguintes.
A princípio, precisamos lembrar que estamos em mundo cheio de problemas e cada vez mais conturbado, logo, é de se esperar que, de vez em quando, vamos nos meter em alguma encrenca (outras vezes alguém nos faz este “favor”!). Tendo isto em mente, muitos deixarão de se achar azarões, quando ocorrerem eventos desagradáveis.
Qual deve ser o comportamento na hora em que somos solapado por um acontecimento ruim? Se entregar? Se drogar com calmantes? Parar com todos os projetos de e sonhos pessoais? Trancar-se num quarto escuro?
Conheço muitas pessoas que ao se depararem com algum fato inconveniente começam imediatamente uma verdadeira sessão de autoflagelação. Talvez você já tenha ouvido alguém dizer as seguintes coisas em momentos críticos: “Tinha que ser comigo”, “Nada dá certo para mim”, “Tudo em que ponho a mão estraga”, “Já estou acostumado a sofrer”, etc. Tais pessoas parecem ver o mundo a sua volta de uma forma tão negativa que chegam até mesmo a concluírem que merecem passar por situações catastróficas, então, procuram encontrar alguma resposta que os convençam de que precisam passar por isto ou aquilo, uma espécie de consolo mórbido. Para estes, é como se a vida tivesse reservado uma “sina”, um destino talvez, mas é exatamente o contrário. Pensar que alguns nasceram “carimbados” para serem felizes e outros infelizes é uma estupidez inominável. Em vez destes insights que em nada ajudam, a cada nova crise é precisamos utilizar todas as estratégias possíveis e esgotar todos os meios ao nosso alcance; persistir incansavelmente; enfrentar cada inimigo de frente; comunicar-se com parentes e amigos; ousar em fazer coisas novas; mudar até mesmo de opinião e, sobretudo, procurar manter a autoestima elevada.
Tão importante quanto não nos deixarmos levar passivamente pelas crises, é não adotarmos uma postura do tipo “não está acontecendo nada comigo, é só uma fase”. Esta é outra postura muito comum – infelizmente. Neste caso o indivíduo parece estar anestesiado aos problemas e tende a subestima-los como se essa fosse a melhor alternativa. Conheci pessoas com o casamento desabando, ofereci ajuda, mas o que ouvi foi “não se preocupe, pastor, está tudo bem” – hoje ele está bem longe, ela bem infeliz. Não se desesperar é uma coisa, não se importar com o mundo desabando ao redor é outra totalmente diferente. Esta é a base para a minha a próxima consideração.
Nós, os brasileiros, somos conhecidos como o povo do jeitinho. Esta parece ser a anestesia de muitos de nós. Pegamos as contas, enfiamos nas gavetas e ficamos esperando um jeitinho; brigamos com alguém e esperamos dez anos até que tenhamos uma brilhante idéia para reconquistar a pessoa com jeitinho; compramos ou vendemos desonestamente e aguardamos que ninguém descubra o jeitinho com que forjamos um documento, e assim por diante. Temos sempre um jeitinho para furar fila; jeitinho para enganar o patrão; jeitinho para sonegar impostos; etc. Agora, atenção todos os brasileiros: NÃO EXISTE JEITINHO PARA SAIR DE UMA CRISE, POR MENOR QUE SEJA! Crises não se resolvem com paliativos ou anestésicos! Imagine um paciente ouvindo do médico a seguinte coisa: “Olha o seu problema é muito grave, mas enquanto você está agüentando tome este analgésico, você não vai sentir nada e faz de conta que está curado!” – um bom brasileiro irá buscar um analgésico com sabor tutti-frutti. Resolveu? Isto é um absurdo, não é? Pois fingir que não está acontecendo nada quando de fato está, não é inteligente. A conduta correta do médico (deduzo) seria fazer o diagnóstico e recomendar um tratamento adequado, caso contrário só estaria contribuindo para a piora do paciente. Da mesma forma, ao “diagnosticar” uma crise precisamos trata-la adequadamente, mesmo que o processo de cura seja doloroso, mesmo que o remédio seja amargo. - pr Aécio
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Esta mensagem é parte de uma série de mesmo título publicada no Boletim da Igreja Cristã Ibero-Americana.
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