Minha conversão ao Evangelho ocorreu no tempo em que paletó e
gravata para os homens, saia e cabelo para as mulheres ainda eram sinônimos de
santidade na maior parte das igrejas evangélicas – principalmente as de cunho pentecostal.
Quanto mais alinhadas e modestas as vestes ou os penteados, maior a aura de
santo ou de santa.
Lembro-me, por exemplo, que na pequena congregação da qual era
membro se realizava uma vez por semana o chamado “culto de doutrina”, reunião
em que o pastor gastava 90% do tempo de sua preleção falando sobre roupas,
penteados, comportamentos, adornos, maquiagens, televisão, etc., e, pasmem,
quase tudo com “base bíblica” (naquelas tipo “texto fora do contexto...”)!
Pois é, os tempos mudaram e muita coisa mudou de lá para cá. Com
pequenas variantes e raríssimas exceções, nem mesmo as igrejas (ou
denominações) mais rígidas resistiram a prova do tempo na observância daquilo
que convencionamos chamar de “usos e costumes”. Os irredutíveis
“pastores-delegados” sucumbiram ao ditames do novo milênio, e tiveram que abrir
mão das exigências dos membros se vestirem assim ou assado – de vez em quando
fico pensando em como é que os tais “pastores-delegados” que ficaram para
assistir a transição das eras conseguem explicar, se é conseguem, que aquilo que
antes era proibido hoje não é mais.
Passou a era da santidade de fachada e chegamos aos “tempos de
unção”, afinal, quanto mais ungido o indivíduo, mais na crista da onda do
momento! Todo mundo quer mais é receber a “unção da vitória financeira”,a
“unção da ousadia”, a “unção da multiplicação”, a “unção das portas abertas” ...
Ufa! Haja apelido para tanta unção!
Acontece que, assim como no passado havia uma vitrine que exibia a
pseudo santidade, os “ungidões” de hoje precisam ostentar, eles têm que parecer
melhores, mais abastados, mais “cheios da grana” e por aí vai – é muita
frescura pro meu gosto!
Naquele tempo a santidade estava nas roupas bem comportadas, no
cumprimento do cabelo (no caso das mulheres), ou na rigidez do estilo de vida.
Hoje é bem diferente, a “unção” pode até estar nas roupas, desde que sejam de
grifes caras! Mas também, a “unção” pode estar nos carros luxuosos; nos
roteiros turísticos “five stars”; enfim, na extravagância, na opulência! A
equação é bem simples: quanto mais aparência de rico, quando mais purpurina,
mais ungido é o irmão!
(Se fosse falar dos pregadores e artistas gospel afetados pela “paranoia da unção da estrelinha” teria que
começar um texto exclusivo só pra eles, e a coisa iria ficar mais feia – vou
deixar para outra oportunidade.)
A propósito, nem tudo está perdido. Creio piamente que ainda há os
milhares que não se dobraram ao Baal das aparências. Sim, são aqueles que
entendem que Evangelho de verdade não é casca, é
conteúdo!
Há aqueles que experimentam dia a dia a profundidade da graça e do
amor de Deus, logo, não precisam se “drogar” com a superficialidade da religião
de consumo, nem com a fé “coisificada”. Há aqueles que sabem diferenciar muito
bem a aparência da essência: aquela se conforma com as insignificantes
gratificações desta vida, esta ambiciona o que eterno!
“Isto, porém, vos digo, irmãos, que o tempo se abrevia; o que resta é
que também os que têm mulheres sejam como se não as tivessem; e os que choram,
como se não chorassem; e os que folgam, como se não folgassem; e os que
compram, como se não possuíssem; e os que usam deste mundo, como se dele não
abusassem, porque a aparência deste mundo passa.” - I Co
7.29-31
Um abraço!
- pr Aécio -