sábado, 24 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
O DISCIPULADO E O DESAPEGO – LUCAS 14.26
Uma das característica mais intrigantes da mensagem de Jesus é a questão do desapego, principalmente em se tratando das coisas que estão intrinsecamente conectadas com nossas relações afetivas e nosso bem estar – dois aspectos altamente complexos e melindrosos. Afinal, convivência familiar e garantia de vida são bens inestimáveis, que nenhuma pessoa em sã consciência pretende sequer arriscar, quanto mais perder
Não, sinceramente não creio que Jesus estava colocando os discípulos contra a parede no sentido de que eles fizessem uma escolha absurda do tipo “ou isto ou aquilo”. O que o discurso de Jesus deixa explícita é a necessidade dos discípulos reconhecerem a real dimensão da opção pelo novo e arriscado estilo de vida. Eles precisariam se submeter às “regras” ou “Leis do Reino” de tal forma que isso lhes exigiria uma decisão muito firme. Tal decisão deveria ser suficientenmente segura a ponto de mantê-los inabaláveis na nova fé, mesmo quando seus entes mais próximos e queridos tentassem demovê-los; ou ainda mesmo que suas vidas fossem ameaçadas. Esta seria, em outras palavras, a prova de fogo que definiria quem era discípulo de fato, e quem não era.
Relativamente ao aspecto das relações familiares, ou afetivas como chamei no início, não é novidade pra ninguém que a opção religiosa pode se tornar um tremendo divisor de águas, quando tradições e paradigmas estabelecidos são alterados. Muitas vezes, pessoas que rompem com os preceitos religiosos comuns ao seu meio familiar, decidindo abraçar uma nova fé, correm no mínimo sérios e reais riscos de ouvirem frases ameaçadoras mais ou menos assim: “Você tem que seguir a religião de seus antepassados!”, “Deus deixou só uma religião, e a nossa é a certa!” ou “Se mudar de religião esquece que tem família!”, e por aí vai. Há lugares, por exemplo, em que é preferível um familiar morto do que convertido a uma fé ou religião diferente ao do restante do clã!
Se o risco de perder ou romper com os vínculos afetivos já é por si só algo que extrapola e desafia nossos sentimentos, o que dizer de perder a própria vida (leia-se também liberdade, identidade, conforto, etc.)?! Pois é, sem rodeios, Jesus diz que “não pode” ser Seu discípulo aquele que não abrir mão de sua própria vida por Ele e por Sua mensagem. Num primeiro momento, esta proposta parece radical demais. Porém, se a examinarmos com um pouco mais de atenção, poderemos observar que é mais simples do que imaginamos, haja vista o consenso de que só nos dispomos a dar nossas vidas por aquilo em que realmente acreditamos de todo coração – há quem perca a vida por coisas e ideais muito menos elevados, então, por quê não perderíamos por Aquele que nos garante a vida eterna? - pr Aécio
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
PESSOAS E COISAS
Que as relações humanas em nossos dias estão cada vez mais comprometidas em razão de um fenômeno comportamental batizado informalmente de “coisificação” todo mundo sabe. O que pouca gente sabe, finge não saber ou se esforça por não saber, é que há como evitar, e até reverter mais este flagelo que parece ter nascido do útero da era pós-moderna – época em que se atribui tanto ou mais valor às máquinas e aparelhos, em detrimento às pessoas e aos relacionamentos interpessoais.
Num passado não tão distante, por exemplo, as amizades eram mais calorosas e, digamos, menos interesseiras. Para ser parte do grupo ou da turma há alguns anos não se exigia a aparência X ou Y, nem a posse de um iPod, a última novidade em celular ou a mais nova sensação em Tablet. Naquele tempo até que havia modismos e tendências, mas não tão autoritárias e violentas como hoje em dia, a ponto de fazer com que alguns excluam de suas relações quaisquer possibilidades de amizade com aqueles que não se vestem ou não se comportam como os demais de sua “tribo”.
Outro exemplo, são os tipos de relacionamentos comuns nas redes sociais da internet. O que para muitos é um avanço, para mim é um retrocesso homérico. Ser adicionado na lista de amigos virtuais na mentalidade moderna é sinônimo de aproximação, porém, entendo que em boa parte dos casos pode ser mais um fator de desagregação e distanciamento.
Pessoas que antes encontravam prazer no ato de passar horas batendo papo ou, no velho jargão, “jogando conversa fora” com amigos, parentes e vizinhos, hoje se contentam com os efêmeros “e aí? ... Blz?” do MSN, com uma clicada no “curtir” do Facebook ou com os duvidosos “scraps” no seu Orkut. Para mim, isto está mais para racionamento de amizade do que relacionamento de amizade, não é?! Vale ainda observar que as amizades neste campo além (ou será aquém?) do físico é tão frágil que basta um dia estressante para fingirmos que estamos “ausentes”, “ocupados”, “off line” ou nos desculparmos com frases prontas do tipo “não tive tempo de entrar na net esta semana”, que “o PC estava com vírus e juro que não recebi seu último e-mail”, etc.
Pode parecer ingenuidade, mas acredito que evitaríamos cair na teia da “coisificação” dando mais atenção àquelas pessoas que estão à nossa volta, mostrando real interesse por seus problemas e mostrando que temos prazer em estar com elas. Poderíamos tomar mais chás e cafés juntos; poderíamos almoçar e comer pizza mais frequentemente com familiares e amigos que há muito não sabemos por onde andam. Assim, tiraríamos os olhos do brilho das frias telas e fixaríamos nosso olhar no brilho do olhar dos outros, provavelmente acessando lugares em seus corações aonde a pesquisa do Google não chega!
Penso também que reverter este processo depende de uma decisão pessoal, uma mudança de atitude. Será possível quando as pessoas forem mais importantes que nossas agendas, empregos, cursos e demais ocupações. Quantas vezes, na tentativa de nos esquivarmos daqueles que nos reclamam um pouco atenção usamos nossas agendas como escudo? Outras vezes, achamos que podemos perder o amigo, mas o emprego ou um dia de curso não!
Com um pouco de boa vontade e sensibilidade, em pouco tempo nos (re) condicionaríamos, se abandonarmos este estranho e impiedoso jeito de tratar as pessoas como se fossem coisas e vice-versa. - pr Aécio
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