ATIVISMO
Por mais estranho que possa parecer existem líderes que se ufanam em ter suas agendas repletas de compromissos, ainda que isto implique em sacrificar necessidades pessoais básicas, como o descanso e alimentação adequados e até mesmo o tempo de qualidade que poderiam desfrutar com suas famílias – cônjuges depressivos e filhos com distúrbios emocionais dos mais diversos são muito comuns nas casas de líderes que priorizam suas agendas e deixam seus familiares em segundo plano (leia I Tm 5.8).
Para alguns, férias, descanso prolongado, tempo sabático e outras “licenças” ministeriais não combinam com ministros ou líderes cristãos – alguns acham que isto é heresia! O pior é que tem líderes “cabeças de pudim” que concordam com isto!
O “vício” do ativismo é oposto do ócio (comento a seguir), mas é tão destrutivo quanto. Posso falar disto com tranquilidade em razão de duas internações decorrentes do estresse e suas sequelas, fruto da burrice de querer “fazer-tudo-para-todos”, nos primeiros anos de pastorado. Pare quando um pastor veterano e amigo me deu um puxão de orelhas: “Assim você vai morrer logo!”. Deste jeito, na bucha!
Um chavão presente em pregações sobre lideranças diz que há muitos líderes “demasiadamente envolvidos com a obra de Deus, mas nada envolvidos com o Deus da obra”, e é assim mesmo. Contraditório, mas comum em lideranças modernas: A grande maioria dos líderes não tem vida devocional, não oram e não leem a Bíblia com fome e sede da presença de Deus! Quando o fazem, fazem forçados pelos novos e próximos compromissos: pregar, ensinar, etc.
Quem é viciado em agenda lotada, quem acha que é bonito marcar presença em dois, três eventos por dia, vários dias da semana, durante todos os meses do ano está redondamente enganado: Isto é feio e de péssimo gosto! Ou vai morrer logo, como disse meu sábio amigo, ou, poderá amargar algumas doenças típicas da falta de disciplina em comer e descansar nas suas devidas proporções!
Se por um lado o “vício” do ativismo pode encurtar a vida de um líder ou no mínimo tirá-lo de cena mais cedo, o “vício” do ócio vai liquidando o indivíduo paulatinamente, bem devagarinho.
Trabalhar demais é arriscado; trabalhar de menos é muito arriscado! Sedentarismo pode ser uma maneira bonita, um apelido para PREGUIÇA e um disfarce para COMODISMO!
O alerta vai principalmente para líderes que não prestam relatórios a superiores, ou que não possuem mentores a quem devam se reportar periodicamente. Vai também para aqueles que se sentem muito seguros em suas poltronas de presidentes, de diretores, de supervisores, etc. – não podemos nos esquecer de alertar também aqueles que, por terem alcançado determinado nível, se acham acima do bem e do mal – cuidado: seu bem pode ser seu mal!
Líderes dados ao ócio estão sob aquela maldição bem definida pelo adágio popular “mente vazia é oficina do diabo” – atualizando: “agenda vazia é prancheta do diabo”! Foi assim que Davi se viu quando andava de um lado pro outro, num dia cheio de nada pra fazer. Aquele rei deveria estar na frente da batalha, com os demais soldados de seu exército. Entretanto, deu-se ao luxo do ócio quando deveria estar ocupado – deu no que deu (II Sm 12.1, 2).
Em liderança cristã, o risco do “não fazer nada” não é só o de se tornar cada vez mais preguiçoso, na medida em que líderes tendentes a isto exploram, usam e abusam daqueles que estão sob seus mandos e desmandos.
O “vício” do ócio, como no caso de Davi, pode ser o vetor para pecados horrendo. Neste tempo, por exemplo, na era dos “trambolhos” eletrônicos e dos respectivos canais que favorecem o acesso ao chamado mundo virtual, nem é preciso muita imaginação para deduzir ou suspeitar que líderes cristãos aparentemente santos, confiáveis, tornaram-se vítimas de si mesmos à partir do momento em que passaram a desperdiçar horas inúteis diante de seus Notebooks, iPads, Tablets e outros “brinquedinhos” que vieram para estreitar uma linha que já era tênue demais.
Trancados em seus gabinetes ou confinados longos períodos em quartos de hotéis, não poucos líderes cristãos, ao descartarem no vácuo do ócio seu precioso tempo, acabam enveredando pelo submundo dos pecados pós-modernos, como o da pornografia virtual, por exemplo.
PRAGMATISMO
Uma das características de nossos dias é querermos tudo pronto, aqui e agora. Não importa a origem, desde que funcione! Não importa como, desde que aconteça! Este é o mundo moderno: Tudo é possível num click!
O “vício” do pragmatismo é comum numa geração que já se acostumou com o macarrão instantâneo, com as fast foods, com o micro-ondas e todas as demais possibilidades de acesso rápido, fácil e funcional.
Mas, em liderança quase nada é assim, logo, o pragmatismo é um ato falho, um “vício” a ser combatido com toda veemência. Alguém disse que “a obra de Deus se faz com 5% de inspiração e 95% de transpiração”.
No afã de verem suas igrejas e ministérios crescendo, milhares de líderes cristãos em todo mundo se submetem às inúmeras propostas “enlatadas” (geralmente made in USA), contendo fórmulas mágicas, truques de marketing e uma enxurrada de supostas técnicas que favorecem o crescimento de igrejas, grupos, etc. – quando eu era “bobinho” costumava cair em alguns destes atrativos contemporâneos. Não foram poucos os congressos, seminários e encontros que participei, nos quais na maioria das vezes as únicas coisas boas e proveitosas que experimentei foram refeições servidas durante os eventos, e as poucas amizades que pude fazer – desculpem o sarcasmo!
Em se tratando de igrejas locais, por exemplo, minha opinião sobre os movimentos de crescimento modernos é que todos eles, sem exceção, devem ser tratados com a máxima cautela e critério – boa parte deles é recheada de experiências e conceitos que funcionaram em determinados lugares e épocas, mais jamais terão o mesmo êxito fora destes contextos.
Como pastor, aprendi que cada igreja ou ministério possuem um “DNA” próprio, com características distintas. Alguns irão crescer e continuar crescendo absurdamente; outros, porém, terão um crescimento mais lento, e assim permanecerão! E isto não depende só da vontade do pastor, dos líderes ou de uma equipe: Jamais podemos descartar a ideia de que na obra de Deus, Ele é quem dá o crescimento (At 2.47; Cl 2.19)! – A ressalva neste ponto é que todo líder cristão deve investir e trabalhar para 10 com a mesma vontade e intensidade com que trabalharia para 1.000 ou 10.000, considerando que não é a velocidade do crescimento ou a quantidade de pessoas alcançadas que norteiam nossa vocação, mas a visão do Reino.
Líderes cristãos devem ser sensíveis e obedientes ao Espírito Santo. Isto é o que basta!
- pr Aécio -