quarta-feira, 29 de junho de 2011

“VÍCIOS” PRESENTES NA PRÁTICA DA LIDERANÇA CRISTÃ - PARTE 4

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ATIVISMO

Por mais estranho que possa parecer existem líderes que se ufanam em ter suas agendas repletas de compromissos, ainda que isto implique em sacrificar necessidades pessoais básicas, como o descanso e alimentação adequados e até mesmo o tempo de qualidade que poderiam desfrutar com suas famílias – cônjuges depressivos e filhos com distúrbios emocionais dos mais diversos são muito comuns nas casas de líderes que priorizam suas agendas e deixam seus familiares em segundo plano (leia I Tm 5.8).

Para alguns, férias, descanso prolongado, tempo sabático e outras “licenças” ministeriais não combinam com ministros ou líderes cristãos – alguns acham que isto é heresia! O pior é que tem líderes “cabeças de pudim” que concordam com isto!

O “vício” do ativismo é oposto do ócio (comento a seguir), mas é tão destrutivo quanto.  Posso falar disto com tranquilidade em razão de duas internações decorrentes do estresse e suas sequelas, fruto da burrice de querer “fazer-tudo-para-todos”, nos primeiros anos de pastorado. Pare quando um pastor veterano e amigo me deu um puxão de orelhas: “Assim você vai morrer logo!”. Deste jeito, na bucha!

Um chavão presente em pregações sobre lideranças diz que há muitos líderes “demasiadamente envolvidos com a obra de Deus, mas nada envolvidos com o Deus da obra”, e é assim mesmo. Contraditório, mas comum em lideranças modernas: A grande maioria dos líderes não tem vida devocional, não oram e não leem a Bíblia com fome e sede da presença de Deus! Quando o fazem, fazem forçados pelos novos e próximos compromissos: pregar, ensinar, etc.

Quem é viciado em agenda lotada, quem acha que é bonito marcar presença em dois, três eventos por dia, vários dias da semana, durante todos os meses do ano está redondamente enganado: Isto é feio e de péssimo gosto! Ou vai morrer logo, como disse meu sábio amigo, ou, poderá amargar algumas doenças típicas da falta de disciplina em comer e descansar nas suas devidas proporções!

OCIOSIDADE


Se por um lado o “vício” do ativismo pode encurtar a vida de um líder ou no mínimo tirá-lo de cena mais cedo, o “vício” do ócio vai liquidando o indivíduo paulatinamente, bem devagarinho.

Trabalhar demais é arriscado; trabalhar de menos é muito arriscado! Sedentarismo pode ser uma maneira bonita, um apelido para PREGUIÇA e um disfarce para COMODISMO!

O alerta vai principalmente para líderes que não prestam relatórios a superiores, ou que não possuem mentores a quem devam se reportar periodicamente. Vai também para aqueles que se sentem muito seguros em suas poltronas de presidentes, de diretores, de supervisores, etc. – não podemos nos esquecer de alertar também aqueles que, por terem alcançado determinado nível, se acham acima do bem e do mal – cuidado: seu bem pode ser seu mal!

Líderes dados ao ócio estão sob aquela maldição bem definida pelo adágio popular “mente vazia é oficina do diabo” – atualizando: “agenda vazia é prancheta do diabo”! Foi assim que Davi se viu quando andava de um lado pro outro, num dia cheio de nada pra fazer. Aquele rei deveria estar na frente da batalha, com os demais soldados de seu exército. Entretanto, deu-se ao luxo do ócio quando deveria estar ocupado – deu no que deu (II Sm 12.1, 2).

Em liderança cristã, o risco do “não fazer nada” não é só o de se tornar cada vez mais preguiçoso, na medida em que líderes tendentes a isto exploram, usam e abusam daqueles que estão sob seus mandos e desmandos.

O “vício” do ócio, como no caso de Davi, pode ser o vetor para pecados horrendo. Neste tempo, por exemplo, na era dos “trambolhos” eletrônicos e dos respectivos canais que favorecem o acesso ao chamado mundo virtual, nem é preciso muita imaginação para deduzir ou suspeitar que líderes cristãos aparentemente santos, confiáveis, tornaram-se vítimas de si mesmos à partir do momento em que passaram a desperdiçar horas inúteis diante de seus Notebooks, iPads, Tablets e outros “brinquedinhos” que vieram para estreitar uma linha que já era tênue demais.
Trancados em seus gabinetes ou confinados longos períodos em quartos de hotéis, não poucos líderes cristãos, ao descartarem no vácuo do ócio seu precioso tempo, acabam enveredando pelo submundo dos pecados pós-modernos, como o da pornografia virtual, por exemplo.

PRAGMATISMO

Uma das características de nossos dias é querermos tudo pronto, aqui e agora. Não importa a origem, desde que funcione! Não importa como, desde que aconteça! Este é o mundo moderno: Tudo é possível num click!
O “vício” do pragmatismo é comum numa geração que já se acostumou com o macarrão instantâneo, com as fast foods, com o micro-ondas e todas as demais possibilidades de acesso rápido, fácil e funcional.
Mas, em liderança quase nada é assim, logo, o pragmatismo é um ato falho, um “vício” a ser combatido com toda veemência. Alguém disse que “a obra de Deus se faz com 5% de inspiração e 95% de transpiração”.

No afã de verem suas igrejas e ministérios crescendo, milhares de líderes cristãos em todo mundo se submetem às inúmeras propostas “enlatadas” (geralmente made in USA), contendo fórmulas mágicas, truques de marketing e uma enxurrada de supostas técnicas que favorecem o crescimento de igrejas, grupos, etc. – quando eu era “bobinho” costumava cair em alguns destes atrativos contemporâneos. Não foram poucos os congressos, seminários e encontros que participei, nos quais na maioria das vezes as únicas coisas boas e proveitosas que experimentei foram refeições servidas durante os eventos, e as poucas amizades que pude fazer – desculpem o sarcasmo!

Em se tratando de igrejas locais, por exemplo, minha opinião sobre os movimentos de crescimento modernos é que todos eles, sem exceção, devem ser tratados com a máxima cautela e critério – boa parte deles é recheada de experiências e conceitos que funcionaram em determinados lugares e épocas, mais jamais terão o mesmo êxito fora destes contextos.

Como pastor, aprendi que cada igreja ou ministério possuem um “DNA” próprio, com características distintas. Alguns irão crescer e continuar crescendo absurdamente; outros, porém, terão um crescimento mais lento, e assim permanecerão! E isto não depende só da vontade do pastor, dos líderes ou de uma equipe: Jamais podemos descartar a ideia de que na obra de Deus, Ele é quem dá o crescimento (At 2.47; Cl 2.19)! – A ressalva neste ponto é que todo líder cristão deve investir e trabalhar para 10 com a mesma vontade e intensidade com que trabalharia para 1.000 ou 10.000, considerando que não é a velocidade do crescimento ou a quantidade de pessoas alcançadas que norteiam nossa vocação, mas a visão do Reino.
Líderes cristãos devem ser sensíveis e obedientes ao Espírito Santo. Isto é o que basta!

- pr Aécio - 

sexta-feira, 24 de junho de 2011

“VÍCIOS” PRESENTES NA PRÁTICA DA LIDERANÇA CRISTÃ - PARTE 3


DESONESTIDADE

“Faça o que digo, mas não faça o que faço.” Todos conhecem este manjado jargão, o qual denuncia o caráter dúbio de pessoas cujos discursos e práticas são totalmente antagônicos. Conhece alguém assim? Eu também! Isso para quem desempenha papel de liderança é execrável!

Gosto quando o apóstolo Paulo faz a defesa de seu ministério usando para tal o testemunho de seu estilo de vida ilibado e isento de quaisquer sinais de reprovação (leia um exemplo em II Ts 2.3-6). Porém, como vivemos dias em que líderes cristãos exploram, iludem, ludibriam e tiram vantagens das pessoas que deveriam cuidar, amar e manter relacionamentos saudáveis e de confiança, onde estão os que podem dizer o que Paulo disse?

Apesar de ter minha opinião sobre os desonestos, há quem diga que se trata de um desvio hereditário de caráter, uma doença; outros acham que é um traço comum a determinadas personalidades e quem afirme que o desonesto é fruto do meio em que está inserido.
Para mim, o desonesto – ainda que considerando a possibilidade de um ou outro poder sofrer de algum distúrbio patológico –, é um indivíduo mesquinho responsável por seus atos e, portanto, capaz de decidir entre abandonar esta conduta ou continuar lesando, defraudando as demais pessoas.

O que mais me incomoda em lideranças desonestas é a mentira – eles são uma mentira! Suas convicções são mentirosas, seus discursos são mentirosos, suas práticas idem. Infelizmente identificar e diagnosticar a desonestidade entre líderes não é tarefa fácil. Por mais trapaceiros e usurpadores que sejam, devo reconhecer que são altamente capazes de maquiar suas falas e seus comportamentos, enganando até mesmo os mais chegados – assim permanecendo até  que sejam desmascarados ou que tropecem em alguma contradição.
Falando nisto, lembrei-me de um filme cujo título é bastante sugestivo para meu comentário: O Mentiroso (com Jim Carey). No enredo, o filho pede como presente de aniversário que seu pai (um mentiroso contumaz vivido pelo ator citado acima) só fale a verdade neste dia. Já imaginou quanta sujeira não viria à tona se alguns líderes resolvessem viver um dia só falando a verdade?!

UTILITARISMO

Líderes precisam amar as pessoas, não simplesmente usá-las como se fossem coisas.  Estranhamente assistimos passivamente um hábito que chamarei de “coisificação” (comportamento típico de líderes que tratam as pessoas como se fossem objetos), se instalando nos ambientes das lideranças cristãs modernas.

Neste exato momento, em algum lugar há líderes usando, abusando, explorando e descartando pessoas como se fossem "coisas" – são estas atitudes que compõem o vício que denomino “utilitarismo”. Nos meios cristãos, o mais inquietante nesta sinistra faceta de algumas lideranças é o fato de não só usarem as pessoas: Eles usam a Bíblia para atingir seus intentos, distorcendo a interpretação de textos (como sempre: fora dos contextos) nos quais há exortações referentes à submissão, obediência, etc.
Como se não bastasse, é comum lideranças inescrupulosas também usarem suas posições além das mais diversas formas de persuasão, para convencerem os subordinados da dependência deles (sempre com o intuito de alcançarem determinados objetivos, por exemplo).

Líderes utilitaristas fazem o possível para criar uma espécie de relação simbiótica, na qual o que mais lhes interessam não é o bem estar dos demais, mas as “vantagens” que podem oferecer (dinheiro, favores, contatos, oportunidade de negócios, etc. – é triste, mas é verdade!). Os efeitos deste comportamento são devastadores. Dentre os quais, estão aqueles que levam indivíduos a níveis de frustração e decepção tão críticos que desenvolvem resistência e repulsa a todo tipo de liderança, como se todos os demais fossem usá-los, explorá-los ou simplesmente “coisificá-los”.

INFANTILIZAÇÃO

O “vício” da infantilização combinado ao anterior (utilitarismo) resulta numa fórmula que possibilita manter o domínio sobre indivíduos, grupos, equipes, enfim, sobre sociedades inteiras – esta é, por exemplo, a maneira favorita de governos totalitaristas subjugarem seus compatriotas!

O “sonho de consumo” de líderes motivados por desejos “hitlerianos” é o de exercer o controle absoluto sobre seus liderados – entenda absoluto como sendo o domínio sobre a maneira de pensarem; sobre suas opiniões; sobre suas vontades; sobre seus valores mais íntimos; etc.

Líderes inconsequentes costumam infantilizar as pessoas manipulando-as, induzindo-as quase que hipnoticamente com promessas atraentes e marketing enganoso. Falam de coisas que as pessoas querem ouvir, prometem o que elas desejam, simulam com técnicas simples (discursos, histórias, testemunhos, experiências, recursos visuais, etc.) ambientes e situações que elas passam a acreditar que são ou serão ideais para iniciarem ou darem prosseguimento aos seus planos, desejos e projetos pessoais.

Lamentavelmente devo admitir que os meios religiosos – e o nosso não foge à regra – são os mais férteis para este tipo de “vício” em razão das pessoas serem treinadas desde sempre a não questionarem suas respectivas lideranças, como se todas estas fossem 100% confiáveis e inerrantes – o que não é verdade!

segunda-feira, 20 de junho de 2011

“VÍCIOS” PRESENTES NA PRÁTICA DA LIDERANÇA CRISTÃ - PARTE 2

LEI AQUI A PARTE 1

EXCLUSIVISMO

Luz, Câmera, ação: Esta é a era das celebridades! Todo mundo quer aparecer, que ser o centro das atenções, quer ter seus 15 minutos de fama, e não é diferente para boa parte de nossos líderes. João Batista disse “convém que Eles cresça, e eu diminua”, muitos líderes atuais vão na contra mão deste pensamento: “Convém que eu cresça e me destaque!”.

Líderes exibicionistas, megalomaníacos, metrossexuais e idólatras vaidosos gostam de ser o centro das atenções e querem dominar a cena. Eles são os “quase querubins”, que desde há muito vêm se apoderando de títulos de apóstolos, bispos e agora de patriarcas! O que serão daqui a pouco, semideuses? Onde foram parar os discípulos? Onde estão os servos?

Por que você acha que a cada ano nascem novas denominações, novos ministérios, novos movimentos, novas comunidades? Achava que toda igreja nova que surge foi por divina revelação do Espírito, ou que anjos reluzentes apareceram diante de alguém para anunciar o nascimento de mais um salãozinho, ou de um grupinho que passa a se reunir nas salas e quintais por aí? Salvo raríssimas exceções, às quais respeito e creio existirem, isto acontece por que alguns “bonitinhos” de repente acham que podem fazer a Terra girar em torno do si! Querem destaque, querem gente aplaudindo suas pregações, cantando suas músicas, adquirindo suas publicações e aclamando-os como os melhores, os maiorais, os mais ungidos, os mais poderosos, os mais sábios, etc.

Os traumas que os exclusivistas causam nas igrejas nas quais promovem divisões, rachas e quebra de unidade são tão devastadores que podem levar trabalhos que foram edificados em décadas à total destruição em questão de meses!

 CENTRALIZAÇÃO

Muito próximo ao “vício” do exclusivismo encontra-se o da centralização, que é um problema seríssimo encontrado em líderes cristãos atuais, cujo traço principal é a incapacidade de delegar, atribuir obrigações ou tarefas aos membros de suas equipes – na verdade eles possuem “EUquipes” – se quiser chama-los de egocêntricos, fique à vontade.

Líderes centralizadores não se conformam em controlar só o trabalho de seus colaboradores, mas também querem, e se sentem no direito, de governar suas vidas; de explorar suas emoções, sentimentos; e até decidir sobre seus relacionamentos!
O fascínio em exercer domínio sobre outras pessoas, por subestimar a capacidade de realizar que eles possuem, fazem do sujeito centralizador um indivíduo altamente temível e opressor! Questioná-lo? Nunca! Contrariá-lo? Jamais! Desafiá-lo? Nem pensar! Eles têm a força!

Líderes centralizadores mantém marcação cerrada sobre todos os seus subordinados, causando o efeito “big brother” sobre eles. Para mantê-los debaixo de seu jugo, e se preciso for, tais líderes utilizam-se inescrupulosamente até da estratégia de usar as falhas e debilidades daqueles, lançando-as em rosto ou expondo-as a terceiros.
No geral quem gosta de centralizar as ações de grupos, organizações, instituições ou igrejas são pessoas altamente inseguras, solitárias, que não confiam em quase ninguém, além de conviver permanentemente com as síndromes persecutória e conspiratória. Por este motivo, no geral são tolerados e rodeados por poucos amigos (na maioria das vezes eventuais), familiares mais chegados e de muitos “puxa-sacos”.

SOBERBA

Foi a soberba* que fez de um Querubim um diabo! É a soberba que está transformando até mesmo homens outrora humildes e quebrantados em pessoas intragáveis, repugnantes!

Quando recordo da passagem em que Jesus segura uma bacia e uma toalha para lavar e secar os pés dos discípulos sinto vergonha de mim mesmo. Sério! Tenho a certeza mórbida de que não faria aquilo. Pelo menos naquelas circunstâncias, naquele momento e com aquelas pessoas não faria mesmo!
Vejo as encenações de irmãos lavando os pés uns dos outros alguns eventos especiais e me pergunto: Quantos de nós estamos dispostos a lavar os pés literalmente uns dos outros (metáfora que nos cobra servirmos mutuamente, como se fossemos empregados uns dos outros!)?! Minha resposta é: Quase nenhum de nós! E entre nós, os líderes cristãos?! Quem está disposto a lavar os pés imundos dos Judas, dos Pedros... Quem?!

A soberba é um mal enraizado entre nós, líderes cristãos. Nenhum de nós – quer queiramos admitir ou não –, podemos dizer que nunca experimentamos deste veneno em maior ou menor grau. Esta é uma das maiores batalhas espirituais que travamos todos os dias no desempenho do santo ministério.

A soberba é o prenúncio da queda, diz a Bíblia.
Muitos escândalos envolvendo lideranças cristãs nestes dias são resultantes da presunção dos caudilhos engravatados que, dominados pela falácia de se acharem sempre acima do bem e do mal, expõem à exaustão os pecados alheios, enquanto simultaneamente alimentam maiores perversões no silêncio de seus gabinetes, ou na solidão de quartos de hotéis. Estes exigem humildade dos crentes comuns para confessarem seus pecados, mas não têm nenhuma humildade em reconhecer os seus próprios – crentes comuns pecam, líderes soberbos cometem equívocos ou são acometidos de “um instante de fragilização”.

*Termos semelhantes à soberba: orgulho, altivez, presunção.

quinta-feira, 16 de junho de 2011

“VÍCIOS” PRESENTES NA PRÁTICA DA LIDERANÇA CRISTÃ - PARTE 1

Como já escrevi, não sou nem de longe um expert em liderança, tão pouco tenho tal pretensão. Porém, por força da prática de mais de vinte anos, somada a estudos usados em aulas, etc., sinto-me confortável para opinar, tecer críticas e apontar os erros cometidos no âmbito da liderança cristã – minha consciência obriga-me a não me excluir deste rol, no qual, lamentando, não só assumo ter cometido inúmeros erros, como estar sujeito a cometê-los novamente.

Por mais que tente explicar os motivos que me levaram a escrever ou mencionar esta ou outra mazela constatadas nas lideranças dos diversos ambientes cristãos, sempre haverá a suspeita de que não são legítimos, ou que são desabafos inconsequentes. Como conheço muito bem a hipocrisia e superficialidade que permeia estes mesmos meios, logo, não tenho em primeiro plano esta preocupação, e estou disposto a correr quaisquer riscos.... Valerá a pena!

Meu foco e minha preocupação principais se destinam às pessoas submetidas aos mais diversos tipos de lideranças. Junto a estes, muitas indagações e “nós na garganta” que têm me incomodado, me frustrado e, nos últimos anos, me causado um efeito tão desastroso que cheguei ao a ponto de não ter nenhuma vontade ou motivação de participar de reuniões, encontros e outros acontecimentos coletivos da classe – os chamados encontros, reuniões, almoços e cafés de pastores ou ministros, por exemplo, são eventos que, na maioria das vezes, provocam os sentimentos de desconforto e repulsa só de imaginar que terei o desprazer de encontrar homens e mulheres que prometem os céus nos púlpitos e nas tribunas, enquanto transformam os ambientes onde atuam em verdadeiros infernos.

Quando decidi dar ao título a palavra “vícios” foi para mostrar de cara que a questão não é tão simples assim; que seria no mínimo estúpido da minha parte achar que um indivíduo na posição de liderança vai mudar da noite para o dia. Você conhece algum drogado que foi desintoxicado em 24 horas? Também não vai conhecer um líder autocrático, autoritário (um verdadeiro demônio), virar anjo em curto período de tempo!

A lista é extensa, embora não exaustiva, mas tanto experiências pessoais, quanto relatadas por terceiros, adicionadas aos relatos em livros e estudos, me convencem de que a liderança cristã moderna atual está seriamente comprometida, com forte tendência a agregar cada vez mais destes “vícios”.

Elenquei alguns deles para dar corpo ao nosso estudo evitando, na medida do possível cair no enjoativo “evangeliquês”, mas procurando manter o crivo bíblico ao fazer cada afirmação ou observação. Bom proveito!

AUSÊNCIA DE CONVICÇÃO

Em se tratando de igrejas, instituições ou organizações cristãs, ninguém deveria ocupar cargo ou posição alguma sem ter a convicção absoluta de que o que pretende fazer é exatamente o que foi chamado para fazer. Por exemplo, não é raro encontrar rebanhos sob os cuidados de pessoas que jamais sonharam ou desejaram cuidar de outras pessoas. Isto é tragédia anunciada!
Já ouviu falar do termo “dirigente de congregação” – nome genérico dado a indivíduos que assumem em caráter “eternamente temporário” a posição que só alguém convencido de ter chamado pastoral deveria ocupar? Os resultados desta prática aparentemente bem intencionada são desastrosos – podem, inclusive, levar igrejas pequenas a traumas irreversíveis, ou a baixarem as portas em curto prazo!

Como recentemente resolvi não mais colaborar como voluntário e mobilizador no seguimento de agências missionárias diretamente, talvez o seguinte comentário, bem como outros que deverei fazer, além de expressar meus pensamentos sobre o assunto, respondam a alguns questionamentos, ajudem a dirimir dúvidas e a calem eventuais polêmicas, comentários desencontrados, etc., os quais vinha relutando em responder até o momento

Minhas observações agora vão de encontro ao segmento missionário – meio que ocupou intensamente metade da minha vida, ao qual dediquei a mesma medida de paixão e devoção, mas que hoje em dia está cada vez menos presente em minhas práticas, dadas as frustrações e decepções com as instituições, organizações e lideranças também acometidas de vários comportamentos “viciados”. Neste meio, ao longo dos anos acostumei a não me surpreender ao esbarrar com pessoas sem a devida certeza de serem vocacionadas, tanto nas agências ou nas chamadas bases missionárias (escritórios que dão apoio logístico a missionários), ou mesmo nos campos missionários que pude visitar – se fosse só a questão do dinheiro e demais recursos desperdiçados (ou usurpados) até que seria tolerável, o problema é quando as portas se fecham por causa do mal estar que este “vício” causa.

DESPREPARO

No meu caso, falar sobre este aspecto, o qual considero um dos mais vergonhosos e complicados em liderança cristã, é muito fácil: Este é meu caso. Apesar de ter superado esta questão, quem já ouviu meu “tristemunho” sobre o início da carreira ministerial como líder na igreja, em classes dirigidas a líderes ou em conferências sabe muito bem o quanto apanhei durante neste tempo por não possuir os preparos psicológico, emocional e teológico necessários para o exercício de cuidar de um grupo ou rebanho – isto provocou reflexos cruéis para minha trajetória ministerial. Porém, ainda em nossos dias, minha experiência não é exceção, é regra! É sabido que milhares e milhares de obreiros espalhados em todo o território brasileiro (e no mundo), membros das mais diversas denominações (históricas, tradicionais, pentecostais, renovadas e neo pentecostais) com nenhum ou quase nenhum treinamento necessário para ocupar funções das mais simples (professor de escola dominical, líder de pequenos grupos, por exemplo), às mais complexas como o próprio pastorado.

Apesar de concordar e ter a consciência de que nem mesmo os bacharéis estão imunes às baixarias (com permissão ao inevitável trocadilho), sei que recai sobre aqueles que quase, ou nenhuma preparação possuem as maiores chances de colecionarem as mais tórridas experiências. Sobre estes também pesa a maior probabilidade de vitimarem muita gente, além de se tornarem prisioneiros de um sistema eclesial moderno que prioriza resultados, quantidade, ao invés da qualidade.

Quem nunca ouviu falar da “A História do VCC” ou do vídeo em que o sujeito chama a Bíblia de “briba”? Tanto na ilustração, quanto no hilário vídeo encontrado no Youtube os indivíduos (um fictício e outro real) podiam até estar cheios de boas e legítimas intenções, porém, para qualquer que seja a liderança, boa intenção só não basta.

AUTORITARISMO

Se há alguém que pode ser mais bem conhecido quando lhe é conferido poder, este é o indivíduo com tendência ao autoritarismo e, para decepção geral, facilmente encontrados em todos os lugares: organizações, instituições e igrejas, exercendo domínio e subjugando a todos que estiverem sob suas lideranças. Como o próprio termo sugere, este tipo de liderança é impositivo, altamente opressor e estressante.

No geral, o perfil de líderes autoritários é típico em pessoas altamente afetadas pela “síndrome da superioridade”, que tendem a subestimar a capacidade e a vontade dos subordinados.
Outras características comuns verificadas são: a alta capacidade de persuasão (manipulação), potencializada pela segurança que suas posições oferecem; o uso e abuso das famosas “carteiradas” (aquelas do tipo “você sabe com quem está falando?”), sustentadas nas prerrogativas de possuírem mais recursos, mais conhecimento disto ou daquilo, mais formação (entenda-se mais certificados) ou mais influência (os famosos “costas quentes”), etc.

Líderes autoritários se apropriam da máxima de Jesus dita aos seus discípulos “sem mim nada podeis fazer” como slogan preferido! Isto se dá por que eles gostam de mostrar que sabem tudo, podem e resolvem tudo para não incorrer no risco de dividir a glória com quem quer que seja. Por estes e outros motivos, deve-se tomar extremo cuidado com líderes autoritários, pois estes são, no meu parecer, os indivíduos mais “territoriais” e “predadores” – aqueles que não pensarão duas vezes antes de eliminar o primeiro que oferecer a mínima oposição ou resistência. - pr Aécio

(CONTINUA)

quinta-feira, 2 de junho de 2011

CRISTIANISMO SEM CRISTO

Cada vez mais o cristianismo moderno tem menos de Cristo! Esta é uma verdade tão incômoda, quanto necessária.
Teólogos e ministros cristãos tentam explicar os fenômenos que fazem da Igreja do século XXI tão inexpressiva, mesmo com toda a riqueza e o crescente número de pessoas que professam a fé em Jesus Cristo. Mas a resposta é mais simples do que a gente imagina: estamos tão fartos de tudo que já nem precisamos tanto de Jesus!

Desde os cultos – cada vez mais personalistas, girando em torno de figurões “apóstolos”, “bispos” e outros megalomaníacos camuflados -, até os cultos-shows que causam a impressão de que o que menos importa em um culto é Jesus: Tem que ter gente graúda, muitos efeitos especiais, barulho de equipamentos super potentes e aparelhos de imagem de última geração.

Mas, não o aspecto dos movimentos em nossos cultos e demais dinâmicas eclesiásticas me convencem de que o cristianismo em nossos dias tem de tudo, menos do próprio Cristo. O próprio testemunho dos crentes em nossos dias demonstra que é cada vez mais raro notar traços do Filho de Deus em suas vidas. Não rara vezes nos deparamos e convivemos com cristãos nominais, que em nada representam a mensagem do Evangelho, que em nada representam Cristo.
Lembrei-me de Atos 11.26, quando “em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos”. Por que eles foram chamados de cristãos? Com certeza não foi por serem prósperos, ricos ou seguidores de uma doutrina triunfalista (como as pregadas pela Universal, Renascer, Internacional da Graça e outras tão sem graça como estas). Eles foram chamados de cristãos por que se pareciam com Cristo, por que lembravam Cristo em seus atos, ué! Simples assim...

Nem mesmo as pregações modernas escapam da minha crítica. Muitos pregadores modernos parecem mais animadores de público do que qualquer outra coisa. Suas pregações têm de tudo um pouco, mas quase nada de Cristo. Falam sobre viagens, conquistas pessoais, aventuras e experiências vividas, hobbies e um monte de outras coisas sem nenhuma relevância, mas da mensagem do Cristo que veio para salvar o pecador nada! – Que lástima saber que os pregadores modernos são incapazes de pregar sobre o Cristo e Sua Obra!
Há também pregadores metidos a besta que gostam de exibir belas oratórias para impressionar as plateias. Pobres coitados que até podem encher os ouvidos de suas audiências de informações, mas de Cristo que é bom, nada!

Não posso deixar escapar o comentário sobre o esforço que todos os grandes ministérios atualmente estão empregando para construir palácios faraônicos – grandes catedrais na mioria das vezes sem nenhuma utilidade e expressão comunitária ou funcional – cada um quer mostrar para o outro seu poder financeiro, que é uma vaidade fútil.
Na minha humilde opinião os templos gigantes são uma maldição para a igreja moderna, visto que são gastos milhões de dólares para erguer estruturas fadadas à corrupção e à destruição (em outras palavras: dízimos, ofertas e outras arrecadações gastos vaidosamente, no mínimo!), enquanto milhões de pessoas ainda permanecem sem conhecer o Evangelho do Cristo que, por sua vez, não está nem aí para investimentos imobiliários milionários.
Para mim, as mega construções dos templos atuais são verdadeiros monumentos a este cristianismo cheio de formas, repleto de estruturas e carregado de símbolos, mas esvaziado de essência, pobre de amor e sem nada de Cristo mesmo! - pr Aécio