quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

MISERÁVEL APÓSTOLO PAULO - PARTE 3

NOVA

“Miserável homem que sou!” (Rm 7.24)

Se o apóstolo Paulo fosse nosso contemporâneo, tendo que conviver com todas as bandalheiras e desmandos no meio evangélico, penso que teria algumas reações como essas:

- Ficaria corado de vergonha ao escutar certo “missionário” dizer que a TV paga de sua propriedade é “uma benção de Deus para as vidas das pessoas” que a adquirirem – como se não bastassem todas as demais mercadorias e indulgências oferecidas em seus programas.

- Teria uma surto de raiva ao ver certo “apóstolo” matuto (ou será astuto?) manipulando massas de miseráveis com paninhos suados e água benta. Não, ele não deixaria passar em branco as bobagens (e mentiras) repetidas à exaustão pelo falastrão que transformou a pregação em mercadoria de lojinha de um real.

- Protestaria contra as megalomaníacas e milionárias construções de templos, que exaltam os homens e suas instituições, mas que desnudam uma das mais terríveis realidades da igreja: Missionários continuam sobrevivendo à custa de esmolas.

- Como ex-perseguidor da igreja, agora perseguido por amor ao Evangelho, ficaria perplexo ao ver tanta ostentação e luxúria nas vidas dos “cafetões da fé”, que exibem suas mansões, jatinhos e carros importados; que passam longas férias em resorts no exterior com dinheiro de gente pobre.

- Detestaria as “teologias 171” propagadas por aqueles que usam e abusam do texto bíblico para enganar e saquear os incautos, através de manipulações diabólicas, campanhas e correntes fraudulentas, além de tantos outros artifícios igualmente detestáveis.

- Denunciaria publicamente os pecados dos pastores e demais ministros políticos que transformaram as igrejas em currais eleitorais, que ambicionam cargos públicos para defenderem seus interesses pessoais.

- Seria uma pedra no sapato de todos aqueles que cobram cachês para pregar e cantar nos eventos evangélicos, como se fossem astros de quinta grandeza; que se acham “o último fandango do saquinho”, posando de celebridades – cá entre nós, o povo evangélico tem grande parcela de culpa em fomentar o estrelismo e a idolatria destes que se tornam pop stars.

- Não ficaria calado diante da arrogância de um dos “bispos” mais cultuados no Brasil, o qual descobriu a seguinte fórmula: retórica capitalista + sincretismo religioso + jogo de cena + artifícios de marketing + Bíblia = Fortuna, luxo e poder.

- Se escandalizaria com os chatos e enfadonhos eventos tais como conferências, encontros, simpósios, congressos, etc., que mais contribuem para causar (ou fomentar) polêmicas e divisões no Corpo, do que unidade, consciência cristã e mobilização para o serviço do Reino.

- Resistiria aos modismos que têm corrompido as igrejas atualmente – estes que chegaram e se instalaram sob o manto da contextualização; que transformaram os cultos em shows; que fizeram do batismo uma brincadeira e da pregação do Evangelho palestra motivacional.

- Não cederia às teologias liberais contaminadas pelo intelectualismo moderno e inflamadas pelo humanismo, que fizeram da fé e do testemunho cristãos meros debates e discursos acadêmicos, desprovidos de paixão e de alma.

- pr Aécio -

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

MISERÁVEL APÓSTOLO PAULO - PARTE 2

NOVA

“Pastor, quanto o senhor cobra para pregar?”. Esta é uma pergunta feita geralmente por algumas pessoas que desejam que ministre em suas igrejas – e é uma das que mais me constrange (às vezes aborrece).
Se há algo que realmente considero nojento é esta onda crescente de profissionalização dos ministros evangélicos, bem como da “industrialização dos chamados “ministérios” disto ou daquilo – comportamento que está provocando o surgimento de dezenas de mercenários disputando cada centavo de oferta oferecidas em cultos, congressos, conferências e demais eventos em nosso meio. É cada um mais ganancioso que o outro. Cobram cachês estratosféricos para pregar, dar palestras, cantar ou simplesmente testemunhara conversão – alguns parecem “pecadores VIP”, pois pra ouvir como se converteram é preciso pagar... E muito!

Tudo bem que os ministros sejam remunerados por seus trabalhos, que recebam ofertas de igrejas e organizações que promovem eventos. Tudo bem que vivam de suas produções intelectuais (CDs, DVDs, livros, etc.), mas minha reclamação incide sobre aqueles que só pensam em lucrar, e fazem de tudo para arrancar dinheiro dos irmãos que passam a admirá-los como se fossem astros.

É tão escandalosa a coisa, que há aqueles que cobram cachês absurdos para aparições rápidas em cultos (para cantar duas ou três músicas, por exemplo, ou para pregar em torno de uma hora!) chegando a embolsar R$ 5.000,00 ou mais! Sem falar que, no caso de cantores ou pregadores que produzem CDs, DVDs ou livros, há quem só aceite o convite após os anfitriões se comprometerem em vender dezenas ou até centenas de suas produções – o ou ainda pagar valor equivalente a venda dos produtos. Quando ficam famosos, então, não querem hotel com menos de quatro estrelas, não andam em carro popular (principalmente sem ar condicionado), além de muitas outras exigências (ou frescuras) típicas de quem ama e explora o lado glamoroso da fama, como qualquer artista secular do showbiz.

O apóstolo Paulo é um exemplo que talvez encontre bem poucos similares em nossos dias. Embora recebesse ajuda financeira de determinadas fontes, jamais quis ser “pesado” àqueles a quem ministrava; jamais levou seu ministério na base do “quem dá mais”; jamais tirou vantagens de seu testemunho de conversão; jamais se fez de difícil e inacessível; jamais disputou as atenções como se fosse o “último fandango do saquinho”; jamais estipulou preço para suas pregações; jamais tirou vantagem do poder de Deus agindo em sua vida; jamais foi oportunista em concentrações opulentas; jamais fez exigências absurdas para pregar em qualquer lugar.
Paulo também teria nojo dos modernos ministros e ministérios que fomentam o atual comércio de pregadores, cantores, bandas, conferencistas e palestrantes. Estes que praticam cobranças abusivas para se apresentarem aqui e ali; que em vez de se interessarem em quantas almas vão ganhar, só pensam em quanto dinheiro irão embolsar. Para eles, uma pequena lista de versículos para decorar... E praticar:

“Quando estive entre vocês e passei por alguma necessidade, não fui um peso para ninguém... Fiz tudo para não ser pesado a vocês, e continuarei a agir assim.” II Co 11.19

“Não que eu esteja procurando ofertas, mas o que pode ser creditado na conta de vocês.” – Fp 4.17

“...os quais pensam que a piedade é fonte de lucro... De fato, a piedade com contentamento é grande fonte de lucro...” – I Tm 6.5, 6 (Todas as citações são da NVI)

- pr Aécio -

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

MISERÁVEL APÓSTOLO PAULO - PARTE 1

Há uma tendência nefasta em nossos dias de se endeusar pregadores, pastores, teólogos e demais expoentes em nossos currais evangélicos. Assisto a isto com um misto de incredulidade, indignação e vergonha. Incredulidade por que é preciso anular ou suprimir até a capacidade de crer quando a gente se depara com tanto cara-de-pau se aproveitando da simplicidade alheia. Indignação por conhecer alguns destes indivíduos de perto e saber que muitos deles são verdadeiras fraudes como maridos, pais e cidadãos. E, por fim, envergonhado por que a gente sempre é confundido com alguns deles e lançado na vala comum, quando seus escândalos e demais “pisadas na bola” vem à tona, originando aquelas piadinhas burras do tipo “pastor é tudo igual”.

Gosto da inteligência e sabedoria comedidas do apóstolo Paulo. Gosto de seu lado cult sem pose de intelectual. Não consigo imaginar Paulo aceitando convites para os estúpidos debates dos “programóides” de TV que só querem IBOPE nas costas de obreiros exibicionistas, oportunistas e demagogos – considero as exceções sem desculpar os trapalhões que vão aos tais programas supostamente revestidos de autoridade para falar em nome dos evangélicos... Deus me livre!

As cartas de Paulo revelam um sujeito antenado com seu tempo, um homem que lê e que, acima de tudo, possui convicções que não se baseiam em ilações religiosas fanáticas, interesseiras e ambíguas só. Paulo sabia o que falar e o que dizer, não era como estes “papagaios de pirata” que a gente assiste na TV ou ouve nos sofríveis programas evangélicos de rádio. No entanto, penso também que Paulo ficaria constrangido ao ver que nossas conferências, congressos e demais ajuntamentos de crentes gradualmente se transformaram em desfiles de certificados, diplomas, experiências no exterior, condecorações e outras patentes.
Hoje em dia é cada um querendo ser mais sabido que o outro só para se mostrar – e a igreja moderna gosta disto que é uma beleza. Por exemplo, não rara vezes um sujeito se torna referência e passa ocupar elevadas posições nas grandes denominações só por terem se formado na Havard University, enquanto outros mais inteligente, mais capazes e mais cheios do Espírito, jamais sairão dos bancos das igrejas por que “lamentavelmente” podem contar apenas com a convicção de chamado e com os dons espirituais para fazerem a obra de Deus – qualificações insuficientes e descartáveis no competitivo mercado elitista e academicista em que está se tornando o santo ministério em nossa contraditória igreja brasileira!
Se transportarmos esta crítica para as igrejas, em cujos cultos impera a exigência pela técnica em detrimento à liberdade do Espírito Santo, notamos que o linguajar rebuscado, o discursos milimétricamente calculados para impressionar a audiência e o uso exagerado e inconsequente das técnicas de oratória, impedem que aqueles que ainda têm ouvidos “ouçam o que o Espírito diz às igrejas”.

Mas, nem sempre bacharelado, doutorado, MBA, PhD e outras qualificações vem acompanhados de ética, moral, humildade, servilismo e, sobretudo, santidade – cá entre nós, muitos acadêmicos metidos a besta nem convertidos são.
Lamentavelmente, o que se vê é uma crescente profissionalização ministerial, cada vez mais confiante em diplomas pendurados nas paredes dos gabinetes, e menos humilhada diante d’Aquele que, segundo Paulo, “escolheu as coisas loucas... fracas... vis ... e as desprezíveis... para que ninguém se glorie perante Ele.” (I Co 1.27-29). - pr Aécio