segunda-feira, 1 de agosto de 2011

“VÍCIOS” PRESENTES NA PRÁTICA DA LIDERANÇA CRISTÃ - PARTE 5 (FIM)

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DOMÍNIO

Parece que algumas pessoas quando chegam à posição de liderança passam a sofrer de uma espécie de prazer pelo domínio, como se exercer poder sobre outras pessoas lhes causa satisfação, prazer. Resolvi usar o termo "prazer" sem nenhuma malícia, mas sim como uma figura de linguagem. Porém, ele serve tanto para ilustrar, como para alertar sobre a existência deste comportamento maléfico em lideranças que podem causar todo tipo de desconforto em ambientes coletivos, além de levar indivíduos a adquirirem doenças psicossomáticas e traumas muitas vezes irreversíveis.
Também classifico líderes fascinados pelo domínio como "predadores”, em razão da violência com que muitas vezes empreendem suas investidas, ainda mais quando se sentem ameaçados ou desafiados em seus postos.

Pois é, nem mesmo líderes cristãos escapam desta característica cruel, há inclusive aqueles que chegam às raias da insanidade quando o intuito é subjugar aos que deveriam ser tratados como cooperadores, co-servidores, colegas no mínimo, não escravos.
Lamentavelmente não só nos circuitos de empresas, organizações ou instituições, mas mesmo nas igrejas, existem líderes que levam uma infinidade de pessoas a sofrerem pelo que convencionou-se chamar de assédio moral ou mesmo bullying– nomes simpáticos para um crime passível de pena.
Obviamente que os líderes que assim procedem podem sofrer de distúrbios que remontam seus passados e suas histórias pessoais (nestes casos deve-se apelar para a área da psicologia que estuda os fenômenos comportamentais), ou então, passam a agir desta forma por não terem habilidade, formação e preparo para lidarem com a autoridade e poder conferidos.
  
PERSONALISMO

Existem líderes extremamente narcisistas, que amam contemplar a si mesmos, de ver suas imagens refletidas nos seus liderados.

Líderes personalistas querem suas digitais em tudo e em todos. Grupos ou equipes lideradas por pessoas acometidas deste vício tendem a se transformar num aglomerado de “clones”.
Aqui no Brasil, por exemplo, não são raros os pregadores e demais obreiros das igrejas de mercado serem treinados a falarem como seus lideres – não só isto: eles até oram igualzinho, com sotaque, jargões e tudo! Todos agindo como se fossem soldadinhos de um grande exército de bonecos, reproduzindo em si mesmos as marca de seus caudilhos.

Líderes personalistas dominam seus liderados com mão de ferro, são altamente perversos e perigosos, visto que, assim como os masoquistas, também tendem a deixar traumas terríveis naqueles que permanecem sob seus auspícios (ou suplícios?). Eles também são extravagantes, exigentes ao extremo, excêntricos e arrogantes! Gostam de impor seus gostos e convicções, além de explorarem as deficiências das pessoas, subestimando-as e obrigando-as a obedecerem suas ordens. Como se julgam donos da verdade, líderes dominados por este “vício” não permitem que suas ordens, orientações e quaisquer assertivas sejam sequer questionadas – caso isto ocorra, pode significar o risco dos liderados padecerem o inferno na terra, ou fim de carreira mesmo.

 NEPOTISMO

“Tal pai, tal filho” nem sempre é a regra. O mais comum é “se é do pai, é do filho” – na ausência do filho, serve um parente ou amigo. Não escapa nada, nem mesmo em segmentos cristãos – igrejas, organizações, instituições, seminários, empresas (editoras, lojas, distribuidoras escolas, etc.) –, tudo pode se transformar em patrimônio familiar ou compartilhado com parentes amigos, formando verdadeiras dinastias que vão passando de geração em geração.
Desde pequenas congregações até as cadeiras de presidência de grandes convenções estão ocupadas por filhinhos e filhinhas de papai. Quando não ocupam os cargos majoritários, são postos em postos estratégicos para não perderem o domínio dos clãs – administração, finanças, secretarias, etc.

No meio evangélico brasileiro é muito comum assistirmos a rápida ascensão de familiares à cargos majoritários e estratégico, em detrimentos a tantos outros infinitamente mais preparados, que passam a vida inteira sem nenhuma oportunidade de ocuparem as mesmas posições – diga-se de passagens muita gente até sem evidências de real compromisso com a própria causa e, muitas vezes, sem evidência de conversão.

Este “vício” é tão fácil de constatarmos que basta um teste de memória para um leitor crente que conhece razoavelmente a história recente das mais destacadas denominações ou instituições evangélicas conferirem e concluírem que os nomes, e os sobrenomes são quase sempre invariáveis. Por que será, hein?!

BREVE APELO AOS LÍDERES CRISTÃOS:

Concluo esta série com uma certeza: A de jamais transigir diante da problemática que se vislumbra no cenário da liderança cristã evangélica moderna. E, para que não caia no julgamento inconseqüente daqueles que se ocupam apenas em atirar pedras – como se eles mesmos não tivessem teto de vidro – devo reconhecer que já tropecei e caí na falácia de praticar ou ceder a algum, ou alguns dos tais “vícios”. No entanto, a maturidade chegou trazendo consigo um senso de dever que me dá, cada vez mais, a segurança e o desejo de errar o mínimo possível, até que consiga só acertar.

Sendo assim, como nas vezes em que fui alertado, exortado ou aconselhado (através de pessoas e leituras) por este ou aquele desvio no exercício do ministério, e busquei agonizando reparar os danos e mudar de conduta, queiram também vocês se disporem ao arrependimento e ao devido conserto diante de Deus, de sua igreja, de seu grupo, de sua comunidade e da sociedade em geral, sempre e todas as vezes que forem traídos por si mesmos no percurso que ainda lhes resta - combatam "o bom combate"!

Que isto soe como um convite, um desafio aos meus amigos e colegas de ministério, conhecidos ou não. Que se estenda aqueles que na caminhada nos encontramos e nos separamos; e até sobre aqueles que há muito não vejo e já não sei onde andam, quer tenhamos ou não alguma admiração mútua ou amizade.

Que possamos trilhar o caminho do santo ministério – árduo, desconfortável e quase sempre ingrato, reconheço – com a responsabilidade de quem foi chamado para amar e zelar de pessoas. Estas, não necessitam de chefes, mas de amigos! Que possamos tratá-las como tais, assim como Jesus nos ensinou: "Já vos não chamarei servos... mas tenho-vos chamado amigos..." (Jo 15.15)

Com amor e em temor,

- pr Aécio -

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