quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O DISCIPULADO E O DESAPEGO – LUCAS 14.26

Uma das característica mais intrigantes da mensagem de Jesus é a questão do desapego, principalmente em se tratando das coisas que estão intrinsecamente conectadas com nossas relações afetivas e nosso bem estar – dois aspectos altamente complexos e melindrosos. Afinal, convivência familiar e garantia de vida são bens inestimáveis, que nenhuma pessoa em sã consciência pretende sequer arriscar, quanto mais perder
 
Não, sinceramente não creio que Jesus estava colocando os discípulos contra a parede no sentido de que eles fizessem uma escolha absurda do tipo “ou isto ou aquilo”. O que o discurso de Jesus deixa explícita é a necessidade dos discípulos reconhecerem a real dimensão da opção pelo novo e arriscado estilo de vida. Eles precisariam se submeter às “regras” ou “Leis do Reino” de tal forma que isso lhes exigiria uma decisão muito firme. Tal decisão deveria ser suficientenmente segura a ponto de mantê-los inabaláveis na nova fé,  mesmo quando seus entes mais próximos e queridos tentassem demovê-los; ou ainda mesmo que suas vidas fossem ameaçadas. Esta seria, em outras palavras, a prova de fogo que definiria quem era discípulo de fato, e quem não era.

Relativamente ao aspecto das relações familiares, ou afetivas como chamei no início, não é novidade pra ninguém que a opção religiosa pode se tornar um tremendo divisor de águas, quando tradições e paradigmas estabelecidos são alterados. Muitas vezes, pessoas que rompem com os preceitos religiosos comuns ao seu meio familiar, decidindo abraçar uma nova fé, correm no mínimo sérios e reais riscos de ouvirem frases ameaçadoras mais ou menos assim: “Você tem que seguir a religião de seus antepassados!”, “Deus deixou só uma religião, e a nossa é a certa!” ou “Se mudar de religião esquece que tem família!”, e por aí vai. Há lugares, por exemplo, em que é preferível um familiar morto do que convertido a uma fé ou religião diferente ao do restante do clã!

Se o risco de perder ou romper com os vínculos afetivos já é por si só algo que extrapola e desafia nossos sentimentos, o que dizer de perder a própria vida (leia-se também liberdade, identidade, conforto, etc.)?! Pois é, sem rodeios, Jesus diz que “não pode” ser Seu discípulo aquele que não abrir mão de sua própria vida por Ele e por Sua mensagem. Num primeiro momento, esta proposta parece radical demais. Porém, se a examinarmos com um pouco mais de atenção, poderemos observar que é mais simples do que imaginamos, haja vista o consenso de que só nos dispomos a dar nossas vidas por aquilo em que realmente acreditamos de todo coração – há quem perca a vida por coisas e ideais muito menos elevados, então, por quê não perderíamos por Aquele que nos garante a vida eterna?  -  pr Aécio

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